domingo, 23 de outubro de 2016

Primeira separação de gêmeos siameses do mundo foi realizada em capixabas em 1900

Além do pioneirismo mundial, a cirurgia também foi a primeira a contar com raio-x no Brasil.

Foto: Arquivo Público Mineiro | A. Larrete
Fotos de 1900 mostram as gêmeas siamesas
Se no século XXI não é tão fácil realizar uma cirurgia de separação de gêmeos xipófagos (popularmente conhecidos como gêmeos siameses), como seria a realização de um procedimento como esse no ano de 1900? Foi justamente naquele ano que foi realizada a primeira cirurgia do tipo a ter sucesso no mundo, e na mesa da cirurgia estavam as irmãs capixabas Rosalina e Maria Pinheiro Dável.
Além de ter sido a primeira cirurgia de sucesso envolvendo siameses, a operação das capixabas também marcou a utilização do raio-X pela primeira vez no Brasil. O procedimento foi ministrado pelo médico Álvaro Alvim, que aprendeu com a lendária cientista polonesa Marie Curie.
O raio-X, na ocasião, serviu para descobrir que as gêmeas compartilhavam o mesmo fígado. Antes da cirurgia, o médico Eduardo Chapot Prévost deu a uma das gêmeas azul de metileno para ver se ambas urinavam azulado. Desta forma, eliminou a hipótese de estarem unidas pelo rim.
Nascidas em 1893, filhas do casal João Dável e Rosalina da Silva Pinheiro, humildes agricultores da localidade de Ribeirão do Costa, em Afonso Cláudio, na Região Serrana do Espírito Santo, as gêmeas foram dadas ao médico Eduardo Chapot Prévost, que as levou para o Rio de Janeiro, onde as criou e realizou a cirurgia quando as gêmeas tinham sete anos de idade, no ano de 1900.
Foto: Arquivo Público Mineiro | A. Larrete
Fotos de 1900 mostram a cirurgia feira por Eduardo Chapot Prévost
Fluminense de Cantagalo, na Região Serrana do Rio de Janeiro, Chapot Prévost era médico, doutor e professor de Medicina e realizou o feito aos 36 anos.
As gêmeas, unidas pelo tórax, passaram pela cirurgia praticamente de forma artesanal, já que até a mesa onde foi feito o procedimento foi um invento do médico. O equipamento foi pensado para se dividir em dois, o que permitiu que a equipe liderada por Chapot realizasse as suturas das duas meninas logo após a separação.
A operação foi realizada no dia 30 de maio de 1900, na Casa de Saúde São Sebastião, na cidade carioca de Laranjeiras. A cirurgia durou 90 minutos. Maria, que sempre teve medo da cirurgia, morreu cinco dias depois do procedimento completo. Ela teve uma pleuropericardite, quadro infeccioso grave.
Rosalina, a sobrevivente, foi criada pelo médico e a esposa como uma filha. O sucesso do procedimento foi tamanho que o médico e Rosalina foram convidados a ministrar uma série de palestras em Paris, na França. Os custos das viagens foram bancados pelo governo brasileiro.
Fotos de 1900 mostram as gêmeas siamesas e a cirurgia operada por Eduardo Chapot Prevost - Crédito: Reprodução / Arquivo Público Mineiro / A. Larrete
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De acordo com o jornalista Julio Huber, do site Montanhas Capixabas, Rosalina se casou com Wantuil Henriques no dia 17 de janeiro de 1927. À época, ela teria sido desaconselhada por diversos profissionais da medicina a ter filhos. Porém, o médico Chapot Prévost afirmava que ela poderia engravidar normalmente. Rosalina teve cinco filhos saudáveis, nenhum gêmeo.
FAMÍLIA CAPIXABA
Rosalina e Maria tiveram outros dez irmãos. Todos viveram com os pais no Espírito Santo. A reportagem do site da Região Serrana conseguiu contato com a costureira Dalila Dável Delarmelina, de 62 anos, sobrinha das gêmeas que mora na Sede de Afonso Cláudio.
De acordo com ela, as gêmeas foram levadas no lombo de burro até Cachoeiro do Itapemirim e pegaram um trem até o Rio de Janeiro, onde foram operadas.
“Na época, a viagem daqui até Cachoeiro era demorada, pois as estradas eram estreitas e não existiam carros. Elas foram colocadas dentro de um balaio em cima de um burro. Do outro lado do animal foram colocadas pedras dentro de outro balaio para o burro se equilibrar. De Cachoeiro elas foram de trem para o Rio de Janeiro”, contou Dalila.
A costureira ainda informou que Rosalina visitou algumas vezes a família em Afonso Cláudio. “Os meus pais e tios contam que ela trazia todos os utensílios que precisava para usar no dia-a-dia. Certa vez ela trouxe um baú cheio de louças e presentes, que ficou aqui e foi dividido entre os parentes."
Fonte: www.gazetaonline.com.br

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